Sobre a crise do gás

Faz alguns dias que estou com vontade de escrever sobre esta crise do gás. Mas preferi esperar para não me deixar levar pelas primeiras impressões e acabar sendo tendencioso. Logo de cara o sintoma mais claro é de que estávamos sendo passados para trás por um país mais pobre que o nosso e cujo produto de exportação mais conhecido faz a alegria da galera nas noitadas.

Esses sintomas foram reforçados por matérias na grande imprensa que variavam entre o ufanismo exagerado e piadas de mau gosto. Governo e oposição aproveitaram o momento para fazer a politicagem costumeira, atendendo somente a seus interesses eleitoreiros imediatos.

Mas depois de ler alguns comentários equilibrados, como fez o Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo da semana passada, deu para juntar alguns dados que levam a crer que Evo Morales fez o que deveria ter feito pelo seu país. Se alguns políticos ficaram assombrados com a decisão do presidente boliviano foi também porque estão pouco acostumados em ver candidatos eleitos cumprindo promessas de campanha.

Evo Morales está fazendo o que Lula deveria ter feito quando foi eleito. Está defendendo seu povo e enfrentando o establishment, ciente das consequências que virão. Enquanto o brasileiro fica chorando o leite derramado da Petrobras (que, podem ter certeza, vai lucrar menos, mas vai lucrar muito ainda), continua pagando uma das cargas tributárias mais altas do mundo para sustentar um Estado corrupto, inchado e viciado nas benesses oferecidas pelo poder.