6.10.07

Revisitando o lugar-comum

O Blog do Noblat reproduziu na madrugada deste sábado uma matéria da Folha de S. Paulo com o seguinte título: Lula defende CPMF e mais impostos. Segundo o post, o presidente argumenta que a cobrança de mais impostos seria justificada pelo fato dos brasileiros estarem ganhando mais. Vou me auto-isentar da culpa e revisitar o bom e velho lugar-comum.

Falar em lugar-comum é sinônimo de falta de argumentos, de mediocridade. É aquela expressão batida, que de tão repetida já perdeu a graça. Alguém que recorre ao lugar-comum corre o sério risco de ser defenestrado sob vaias daqueles que querem ouvir uma nova conversa, um novo assunto em pauta.

Falar de ética, de respeito ao erário público, ao voto do cidadão virou lugar-comum. Ninguém mais aguenta ouvir falar desses temas porque aparentemente todas as abordagens do assunto já foram tentadas das mais variadas formas: em música, em poemas, em protestos de ricos e pobres.

A política brasileira, com todas as suas patifarias desde o processo de redemocratização do país, conseguiu afundar algumas das discussões mais importantes da sociedade no vexatório lugar-comum. As pessoas ficam com medo de se expressar, cair neste espaço e serem taxadas de medianas e chatas. Como um papagaio que repete a mesma frase milhões de vezes.

Quando o presidente da República, de sua terra de ilusões, defende que os brasileiros paguem mais impostos, ele me força a ruborecer a face e citar lugares-comuns famosíssimos. Um dos meus favoritos é de que o brasileiro trabalha quatro ou cinco meses do ano só para pagar impostos. Além disso paga escola particular para os filhos, plano de saúde, segurança privada para seu bairro, plano odontológico e assim vai.

Uma vez comentei com um amigo aqui na Irlanda esses fatos ligados aos impostos no Brasil. Ainda acrescentei algumas informações sobre como parlamentares aumentam os próprios salários ou como negociatas espúrias acontecem ao lado do gabinete do presidente da República sem que o mesmo tome conhecimentol (e se ache no direito de dizer que não sabia!). Meu amigo fez-me uma pergunta simples no final: "E o que vocês fizeram então?". Bem, eu respondi que sempre ficamos muito bravos, que a imprensa defenestra todo mundo, mas que na prática nunca acontece nada.

A pergunta do meu amigo, cuja resposta é tão difícil para nós, tem um fundamento na conduta da política na Europa. Não que não exista corrupção, mas quando um político é flagrado por aqui em algum ato ilícito a justiça costuma funcionar. E, não raramente, o próprio flagrado vem a público admitir a culpa ou se defender. Não faz como nosso ilustre presidente, que se esconde nos churrascos da Granja do Torto. Qualquer um que já tenha visitado o lugar-comum sabe disso.

Alguém vai dizer que é lugar-comum criticar o seu país estando morando fora do mesmo. Mas eu nem ligo. Tirei o dia para revisitar o bom e velho lugar-comum.

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