26.12.07

Encruzilhadas (título provisório)
Capítulo 1 - parte 3

Eram sete da noite e a mesa do jantar estava pronta, como sempre. Francisco pegou seu prato na mesa e serviu-se no fogão. Em uma panela maior, de ferro, havia arroz. Pegou dois pedaços de frango cozido na outra panela; um pouco de caldo de feijão e uns poucos grãos que restaram do almoço. Era assim desde sempre.
Quando Francisco sentou-se à mesa seu pai já estava comendo. Cabeça baixa, quase debruçado sobre o prato. O homem, de modos rudes, aparentava ser mais velho do que realmente era. Dava garfadas vigororas, enchendo a boca com arroz e feijão. Largava os talheres para pegar a coxa de frango com uma das mãos. Nunca pronunciava uma palavra sequer durante as refeições.
Francisco deu uma garfada e parou. Largou os talheres e falou com o pai praticamente sem levantar a cabeça:

- Estou partindo. Amanhã.

O homem continuou comendo. Pegou a coxa de frango, arrancou os últimos pedaços de carne e jogou o osso no prato já vazio. Limpou a boca com a própria palma da mão e tomou água. Continuou calado, apenas fazendo sons de ar entre os dentes e a língua, limpando os restos de comida em sua boca.

Francisco continuou:

- Pra sempre.

Com as duas mãos sobre a mesa o velho empurrou a cadeira com um só golpe. Levantou-se e foi em direção ao quarto. Francisco não pegou os talheres. Não tinha fome, não tinha vontade de levantar. Não sabia o que fazer.
Seu pai voltou do quarto com os dois punhos cerrados. Tinha mãos grandes, calejadas e cobertas por uma densa camada de pêlos . Olhava Francisco diretamente nos olhos. Estendeu uma das mãos fechadas na direção do filho. Quando a abriu, mostrou uma corrente fina de ouro com um pingente.

- Isso era da sua mãe. Leva.

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