22.5.08

Encruzilhadas
Capítulo 1 - Parte 5

Haviam se passado pouco mais de cinco horas de viagem e Francisco já começava a sentir o desconforto da velha poltrona. Olhava pela janela e via uma paisagem que pouco ou nada mudava. Uma vegetação seca, retorcida. Algumas cabeças de gado, um açude seco e mais daquela vegetação.

O sujeito sentado ao seu lado dormia tranquilamente enquanto a cabeça balançava de um lado para o outro por causa dos buracos na estrada. Parecia estar habituado ao calor escaldante dentro do ônibus, ao burulho das crianças que choravam e andavam pelo corredor.

Francisco continuou olhando pela janela. Pegou o pingente na corrente que fora de sua mãe. Esticou o cordão até a altura dos olhos, curvando ao máximo o pescoço. A pequena jóia de ouro era uma estrela de cinco pontas, que continha em seu corpo alguns entalhes que Francisco não conseguia identificar.

Largou o pingente e continou a olhar pela janela. Lembrou-se do ódio que sentiu de seu pai no dia em que sua mãe saiu de casa. Odiáva-o por não ter feito coisa alguma para impedí-la. Odiáva-o pela gozação que teve de enfrentar desde criança, a ouvir que sua mãe havia se entregado a outro homem e fugido com uma trupe de ciganos. Acima de tudo, odiáva-o pelos anos de silêncio. Por não saber o que acontecia sob o teto de sua casa.

O ônibus diminuiu a velocidade e começava a encostar novamente para pegar mais passageiros. Outros desceriam alí. Ainda faltavam mais de dez horas para que Francisco chegasse ao seu destino. Uma nuvem de poeira entrou pelas janelas abertas.

O motorista desligou o ônibus, abriu a porta que separa os assentos dos passageiros de sua cabine com um só golpe e gritou:

- Trinta minutos

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Comentário: Fazia algum tempo que havia deixado essa história de lado. Resolvi retomá-la. As partes anteriores, bem como sua continuação, estão em ¨Invencionices e Afins¨.
Eu havia decidido escrever uma história que tinha em mente há muito tempo. Ao invés de escrever e guardar para mim, resolvi publicar em pequenas partes, sem muita revisão. Uma hora, quem sabe, eu termino.

1 comentários:

Aline disse...

Oi Daniel,
Então, o João Fernando também tem blog Fora de Sintaxe - http://foradesintaxe.zip.net .
Tá lá linkado no meu!

Bjs