Encruzilhadas
Capítulo 2 - Parte 3

Depois de perguntar novamente onde encontraria um hotel para passar a noite, Francisco começou a caminhar entre estacionamentos e prédios. Estava no setor hoteleiro norte da cidade. Entrou em um dos edifícios e foi até a recepção. Seu jeito simples contrastava com o estilo de alguns hóspedes que estavam sentados no hall de entrada. E Francisco percebera.

Francisco encostou no balcão e um homem de terno que escrevia algo em um livro parou o que estava fazendo e olhou Francisco. Com apenas um golpe de vista parecia ter decifrado todo o passado e o futuro daquele jovem com sua mala marrom surrada pelo tempo parado em sua frente.

A resposta sobre o preço da estadia naquele hotel teve um resultado no rosto de Francisco que aquele homem de terno bem cortado já esperava. Francisco baixou os olhos, olhou para os lados, agradeceu e ia saindo com sua mala quando o recepcionista o chamou.

- Ei! Olha, tem outros hotéis com preços melhores na cidade, viu. Só que fica meio longe.

O homem explicou para Francisco onde ele poderia pegar um ônibus e o nome de um hotel com preço mais ¨acessível¨.

Quando aquele jovem saiu pela porta do hotel o recepcionista apoiou-se no balcão e coçou a cabeça. Não era a primeira vez que vivenciava aquela cena. Era comum pessoas com o perfil de Francisco chegarem a recepção do hotel em que trabalhava. O mesmo rosto, a mesma mala, a mesma expressão de decepção ao ouvir o preço.

Em geral o recepcionista limitava-se a dizer o preço e olhar a pessoa deixar o hotel com a cabeça baixa. Mas naquela manhã, não sabe o porquê, tomou outra decisão. Apesar disso, sabia que o destino daquele jovem era tornar-se somente mais uma estatística no Distrito Federal. Mais uma pessoa a ocupar-se de um sub-emprego ou, pior, de uma arma a cometer algum crime.

Naquele caso o recepcionista estava completamente enganado.