Tropa de Elite
Vi recentemente Tropa de Elite. Graças ao mesmo mecanismo que levou o filme primeiro às bancas dos camelôs: a internet. Baixei em poucas horas aqui em casa e vi no meu laptop. Facilidade cada vez maior para o público e dificuldade para as empresas que querem manter o controle sobre o que trafega na net.
Enfim, sobre o filme. A ação mantém você tenso do começo ao fim. Impossível não se sensibilizar com o drama de policiais mal-remunerados que enfrentam a possibilidade da morte todos os dias. Os bons policiais, bom enfatizar. Tropa de Elite ganha pontos por colocar o dedo nesta ferida que é a deterioração do sistema de segurança no país.
O assunto não é novidade, mas como lidar com uma força de segurança que se tornou um monstro sem controle? Que convive com suas próprias leis e regras? A questão salarial é um ponto importante, mas não o único. A proximidade com o crime cria uma linha tênue e fácil de ser cruzada por quem supostamente deveria combater a bandidagem. Professores do Estado também ganham uma miséria e nem por isso se envolvem com tanta frequência com atos criminosos.
O filme peca pela maneira maniqueísta com que trata o BOPE - a chamada Tropa de Elite - e a polícia comum. O diretor justifica todo e qualquer ato extremo do BOPE em nome da guerra contra o crime. Além disso, os mais simplórios podem deixar os cinemas pensando que essa força policial é impermeável a corruptos e corruptores. Parece a salvação do país, encarnada no capitão Nascimento. Mas não é. Em lugar nenhum do mundo seria.
Outro ponto negativo do filme diz respeito a tentativa de simplificar a discussão sobre o tráfico de drogas, imputando a culpa pela existência do tráfico ao usuário. Besteira. Antes das drogas chegarem às mãos do consumidor existe uma grande teia de suporte que inclui políticos e grandes empresários. O filme deixa claro o quanto o Brasil está longe da maturidade de discutir problemas como o uso de substâncias consideradas ilegais. Nem em 100 anos estaremos prontos para essa discussão, porque ainda somos muito hipócritas e conservadores para isso.
E por falar em hipocrisia, Tropa de Elite acerta em chamar a atenção para alguns movimentos sociais rasos que não conseguem olhar além do próprio umbigo. A cena em que o policial Matias esculacha uma passeata de mauricinhos é ótima. É, realmente, o que sempre acontece: movimentos formados pelos senhores "formadores de opinião" se interessam apenas pelos números nas estatísticas que os pobres mortos representam. Vão às ruas somente quando alguém da sua vizinhança morre vítima da violência urbana.
No final o filme, como obra cinematográfica, garante uma boa sessão. Com ação, grandes atuações (Wagner Moura, é sem dúvida, um dos melhores da nova safra de atores do cinema) e discussões importantes sobre a segurança no Brasil. Você pode concordar ou não com o que é apresentado na tela, mas o filme já ganha por trazer à tona alguns fatos que todos sabem existirem, mas que são deixados sob o tapete.
1 comentários:
Meus parabéns pelo texto, Daniel! Acho também importante frisar que aqui no Brasil a repercussão do filme tem ganhado um caráter fascista na "GrandeMídia". Como assim? O tipo de tratamento que a polícia deve ter com os moradores das comunidades deve ser esse mesmo: repressão. Achei também muito importante o que vc comentou a respeito do que de fato viabiliza o tráfico. Concordo plenamente! Há uma economia (não só um comércio) paralela, que além produzir drogas, colaca em circulação também DVDs (como os BOP), e até mesmo Remédios. E esses que ocupam os pequenos cargos dessa economia, às vezes não conseguem se inserirem na economia formal e legal, E encontram nessa economia uma forma de ganhar o seu sustento. “Mas, o que eu quero te dizer... é que a coisa aqui ta preta...”. Meus parabéns pelo Blog!!
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