13.1.08

Encruzilhadas
Capítulo 1 - parte 4

Faltavam ainda quarenta minutos para as três da tarde, horário em que partiria o ônibus para Brasília. Mas Francisco já estava lá, na frente da sorveteria, sob o sol escaldante. Ao seu lado estava uma surrada mala marrom, feita de tecido e um material que imitava couro. Há anos esta mala estava juntando poeira sobre o armário do quarto de seu pai. Naquela manhã da partida o velho deixou a mala no chão da cozinha, antes de sair para o trabalho. Foi o último sinal da existência de seu pai por alguns anos.

Dentro da mala haviam algumas camisas, cuecas, meias, duas calças, escova de dentes e um par extra de sapatos. O resto de seus pertences estavam no seu corpo: roupas surradas pelo tempo - mas impecavelmente limpas - e no pescoço a corrente que tinha sido de sua mãe. Não havia nenhum capricho especial no corte do cabelo ou na barba por fazer. Aquilo não era uma situação especial.

Enquanto esperava pelo ônibus Francisco olhava em sua volta. Tudo estava acontecendo exatamente como era esperado. O caminhão de gás, as bicicletas paradas em frente à casa lotérica, um casal de namorados sem assunto dentro da sorveteria...mas tudo parecia mover-se em câmera lenta diante dos seus olhos. Uma gota gorda de suor lhe corria pela testa quando virou-se e viu um ônibus amarelo e azul dobrar a esquina em direção da sorveria.

Não estava excitado. Não estava com medo. Seu peito estava oco e sem sentido como toda aquela cena que se desenrolava em sua frente. O ônibus parou na frente da sorveteria e os freios fizeram um som de metal contra metal, como se as peças implorassem por um pouco de óleo. O motorista desceu e ele mesmo abriu o compartimento de bagagens. Usava um uniforme suado e óculos escuros. Abriu o bagageiro com um só e ruidoso golpe.

Colocou as malas no compartimento sem dizer uma só palavra. Havia pouco mais de dez passageiros. Outros subiriam no decorrer da viagem. Depois de fechar o bagageiro, o motorista se posicionou ao lado da porta para coletar os tiquetes. Francisco entregou o bilhete e deu o primeiro de muitos passos que mudariam completamente sua vida.

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