11.2.08

O gosto amargo do Brasil

Todos os dias, quando chego no trabalho, corro os olhos nas notícias sobre o Brasil. Visito sites de notícias e blogs. A gente acha que já viu de tudo e até que se acostumou com o mar de lama e falcatruas em que nosso país costuma navegar. Mas esse assunto do abuso dos cartões é digno de ceifar a esperança dos mais nacionalistas.

O assunto é tão simples quanto as metáforas futebolísticas de Lula. As formas de se meter a mão no dinheiro público variam em grau e complexidade. Mas este foi dos mais transparentes: o governo foi pego literalmente batendo a carteira do contribuinte.

O que aconteceu é fácil de entender. O que não dá para entender é como as coisas podem se desenrolar de uma forma tão vergonhosa aos olhos de todo mundo.

Todo mundo sabe que o governo está negociando cargos com o PMDB como forma de acalmar os ânimos da maioria no Congresso.

Todo mundo sabe que o governo ameaça o PSDB, que também tem o rabo preso nos cartões corporativos. Ameaça por quê? Se isso não é uma declaração de culpa, assim como o loteamento de cargos, é o quê? E a reação da “oposição” diante da ameaça de ser investigada? É o que, senão uma declaração de culpa?

Uma vez já escrevi sobre chover no molhado, mas não dá para fazer diferente. As coisas não mudam. Trabalhava em Brasília durante todo o processo de investigação do mensalão, correios, Okamoto etc. Todos os dias ficava impressionado com a capacidade de um governo se manter diante de tantos escândalos e denúncias de podridão.

Tenho certeza…aposto que essa história dos cartões vai dar em nada. Ou então vão dar um jeito de punir meia dúzia de camundongos enquanto as ratazanas se escondem em seus gabinetes.

Quando era mais jovem ficava meio que indignado com países que ainda sustentam monarquias. Não conseguia entender como era possível milhões de pessoas trabalhando para sustentar o ócio da nobreza.

Mas hoje em dia vejo que a monarquia faz sentido e é honesta. Afinal, ninguém tem vergonha de ser nobre nas monarquias. Esse é o seu papel. Já o parlamento, esse sim, é eleito para trabalhar. E se um primeiro ministro comete algum deslize é afastado. Troca-se quem deveria trabalhar e dar exemplo e mantêm-se aqueles que assumidamente estão lá para fazer pose e coçar o saco.

Já no Brasil, monarquia e governo se confundem. O que fazemos é sustentar uma corja que chafurda em vinhos caros, carros e prostitutas de luxo, viagens internacionais, charutos e ternos de grife. E em nome de quê, pelo amor de Deus? Em nome do belíssimo trabalho prestado à nação?

Hoje acordei com aquele sentimento amargo de que o Brasil não tem jeito.

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