Tarde Lisboeta
Era uma tarde de outono como outra qualquer. O vento gelado varrias as ruas da baixa quando meteu-se naquele buraco. Gostaria de trazer consigo todo os seus problemas, enterrá-los naquele subterrâneo e torcer para que nenhuma alma infeliz o encontrasse.
Olhava para os rostos que iam e vinham. Alguns tinham o celular colado a orelha. Outros olhavam para o relógio, ansiosos por chegar em casa. Aquecerem-se nos braços de alguém que lhes esperava.
Ela não tinha ninguém. Mais uma vez penduraria o casaco atrás da porta, colocaria a chaleira no fogo e aguardaria a água ferver para preparar o chá. Gosta da bebida amarga, como sua vida. Irá sentar-se junto a janela a pensar como e quando dar fim a tudo isso. Talvez hoje.
Posicionou-se na plataforma com as mãos nos bolsos. Tão fácil, pensou. Só mais um passo. Olhou para o outro lado da linha e viu um rosto que lhe pareceu familiar. Como era mesmo o nome dela? Lembrou-se. Mas quando fez menção de chamá-la uma parede de aço escorregou entre elas. Ouviu um apito e quando a parede voltou a mover-se a garota havia sido levada.
Olhou o tubo de metal contorcer-se para dentro da escuridão até sumir. Com aquele rosto amigo iam-se lembranças de bons tempos. De risadas, bebedeiras e calor humano. Quando virou-se novamente deparou-se com um porta que se abria. Distraída, não percebeu quando um rapaz com sacolas saltou em sua frente e deu um leve empurrão em seu ombro.
Entrou lentamente no vagão e sentou-se perto da janela. O rapaz com as sacolas sentou-se a seu lado, mas ela não viu seu rosto. Continava o olhar o breu e os pequenos pontos de luz que passavam rapidamente. Não tinha interesse pela história que poderia existir ao seu lado. Há muito tempo que tinha perdido a vontade de fazer novas amizades.Uma voz eletrônica veio do alto falante:
BAIXA-CHIADO
Desceu na estação e deixou seu corpo fluir com a massa que deixava o vagão. Pegou as escadas rolantes e quando atingiu a superfície a noite já havia praticamente engolido os prédios e as pessoas. Um vento gelado lambeu a sua face e acariciou seu cabelo. Era como se a cidade insistisse em fazer as pazes com ela. Em vão.Então atravessou a rua e notou que o cheiro de sardinha, que havia se espalhado pela cidade durante todo o verão tinha desaparecido. Ao invés dela, havia um perfume quente e aconchegante vindo da esquina. Dirigiu-se até a coluna de fumaça e o aglomerado de gente que alí havia. Descobriu um vendedor de castanhas torradas.
Decidira comprar uma dúzia antes de voltar para casa e esperou a sua vez de ser atendida. Mas deu um passo para trá e pôs-se a observar as pessoas que alí estavam. Percebeu que cada uma delas levava de lá mais do que um pacote com castanhas. Observou então o senhor que escondia-se atrás de um velho boné e da fumaça.Ela ficou a observar a simples felicidade daquele homem. E sentiu inveja. Deus, como sentiu inveja! Então esperou que o último cliente fosse atendido e ficou parada em frente do carrinho. Eles não trocaram uma palavra sequer. O senhor encheu um pacotinho em forma de cone com castanhas e passou às mãos dela.
Quando ela estendeu as mãos sentiu o calor do conteúdo através da embalagem.
Segurou pacote e olhou nos olhos do vendedor. Eram como se aqueles olhos tivessem também saído do interior dos tachos fumegantes. Há quanto tempo não sentia-se aconchegada daquela forma.
Meteu a mão no bolso do casaco e tirou uma nota de dez Euros. Entregou e recebeu em troca algumas moedas, que colocou também no bolso sem conferir.Ficaram ainda mais alguns segundos mirando-se através da fumaça até que outra pessoa chegou e pediu uma porção de castanhas.
Então virou-se e começou a caminhar em direção à sua casa enquanto segurava com as duas mãos o cone. Sentiu-se aquecida.
Subitamente percebeu que havia feito as pazes com a cidade. Parou. Olhou em volta e percebeu os belos enfeites de Natal. Entendeu que alí, em frente daquele carrinho, tinha encontrado a resposta para aquilo que buscava. Na bondade dos olhos daquele senhor e no sorriso sincero que ele lhe oferecera sem pedir nada em troca.
Segurou pacote e olhou nos olhos do vendedor. Eram como se aqueles olhos tivessem também saído do interior dos tachos fumegantes. Há quanto tempo não sentia-se aconchegada daquela forma.
Meteu a mão no bolso do casaco e tirou uma nota de dez Euros. Entregou e recebeu em troca algumas moedas, que colocou também no bolso sem conferir.Ficaram ainda mais alguns segundos mirando-se através da fumaça até que outra pessoa chegou e pediu uma porção de castanhas.
Então virou-se e começou a caminhar em direção à sua casa enquanto segurava com as duas mãos o cone. Sentiu-se aquecida.
Subitamente percebeu que havia feito as pazes com a cidade. Parou. Olhou em volta e percebeu os belos enfeites de Natal. Entendeu que alí, em frente daquele carrinho, tinha encontrado a resposta para aquilo que buscava. Na bondade dos olhos daquele senhor e no sorriso sincero que ele lhe oferecera sem pedir nada em troca.
Sorriu. Descascou mais uma castanha e levou-a à boca. Dalí em diante tudo ia ser mais simples.
3 comentários:
Lindo conto.....
Beijo
Valeu Ana!
São cenas bem características do outono em Lisboa. Fiquei com vontade de dividir com as pessoas que lêem o blog. Fico feliz que tenha gostado.
Beijos
As fotos são suas tb?
Cara, vc é demaaais!
Ficou com cara de trecho de livro...e, as fotos estão lindas!
beijos
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