22.2.08

Fidel estragou a piada

Sabe o que mais mata de ódio os opositores ferrenhos de Fidel? O fato de que Fidel não vai lhes dar o gosto de gargalharem de um cadáver agarrado ao poder. Fidel estragou a piada. Consciente de sua condição, ele resolveu passar o poder em vida (acompanhando e manobrando, afinal ele ainda é O comandante).

Aos opositores restou fazer piada sobre a velhice, sobre a doença ou o uniforme Adidas de Fidel. O que é muito pequeno, muito baixo até mesmo para quem o odeia de morte. Até nos EUA a notícia de seu afastamento foi recebida com certa frieza. Vários jornalões americanos se detiveram muito mais em analisar até que ponto a pressão militar e econômica sobre Cuba foi válida do que comemorando.

Não adianta espernear. Fidel, com seu afastamento do poder, já deixou claro que sua morte não representa a “festa no apê” em Cuba.

As coisas mudarão. Precisam mudar. Afinal, o projeto de Fidel acabou. Porque o muro caiu, por causa do embargo econômico feroz, porque as pessoas querem liberdade. Mas não mudarão como muitos gostariam: com um golpe que colocasse no poder um fantoche a serviço deste ou daquele governo.

É bem certo que o início da mudança deveria ter-se dado há muitos anos. Está atrasadíssima. Mas na história tudo tem seu curso, pelo bem ou pela força. Os EUA tentaram pela força com atentados terroristas e com o embargo. Não deu certo.

Também nunca houve um movimento popular dentro ou fora da ilha com vulto ou corpo suficiente para demonstrar que os cubanos quisesem outro regime vivido até ontem na ilha. É bem certo que o povo cubano deve ter o direito de decidir que rumo querem para seu país. Mas também é bem verdade que seria cobrar muito de um povo que – falando diretamente – vive a quase meio século sem direito de expressão ou consumo.

O fato é que, se as futuras gerações de líderes cubanos tiverem coerência de manterem as conquistas sociais advindas com a revolução, aliadas a uma abertura política, social e econômica, Cuba poderá ser um exemplo a ser seguido na América Latina.

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