5.3.08

O quiproquó sul-americano - parte 3

Uma biografia pelo ralo

No geral Lula avançou em duas frentes: distribuição de renda e responsabilidade econômica. O grande problema foi o caráter eleitoreiro e populista de programas como o Fome Zero e o Bolsa Família. Os programas são bem intensionados. Mas como bem sabemos o inferno já tem até anexo de tão abarrotado de boas intenções.

Faltou qualificar, ensinar como pegar o peixe. Hoje o que temos são famílias inteiras dependentes dos programas sociais. E o Ser Humano, assim como qualquer animal, quando criado em cativeiro de mordomias, é difícil se readaptar a vida na selva, caçando seu próprio alimento.

No que concerne ao mercado financeiro, o governo Lula é – felizmente – maduro. Aprendeu com a era FHC que dever de casa feito rende bons índices de aprovação. O problema é que Lula não é somente paternalista com o povão. Também o é com os bancos, que nunca lucraram tanto na história do Brasil. O resultado é uma taxa de juros entre as mais esdrúxulas do mundo.

Lula navega bem no meio do povão e no meio dos banqueiros. Entre eles existe, porém, uma classe média que Lula não entende, não quer entender e tem raíva de quem entende. É uma fatia da população que não se beneficia de programas assistenciais, pagam uma carga tributária surreal e sofre com os juros altos que benefiam os banqueiros.

Lula não é muito chegado nessa turma que lê demais, reclama demais mas que tem votos de menos. Por isso mesmo ele aposta na dicotomia ricos x pobres, cada vez que se vê seu governo acuado pelas chamadas “conspirações da elite brasileira”.

Mas o grande gargalo do governo Lula, sem dúvida, é o da ética. É por este ralo que a biografia do presidente vem escoando nos últimos anos. Ao invés de desinchar a máquina administrativa, Lula fez o caminho inverso: previlegiou a companheirada com cargos, salários vultuosos e cartões corporativos.

Lula defende mensaleiros, defende a ministra que fez compras num free shop com cartão corporativo, mistura público e privado no Palácio da Alvorada. O presidente deixou de entrar para a história para ser um político como outro qualquer. Ou pior: porque acredito que nunca a roubalheira e a corrupção foram tratadas de forma tão corriqueira como se faz hoje em dia. O que é péssimo para as instituições do país.

Veja também:
Pobre América do Sul
O bonde da história passou

0 comentários: