22.10.08

Reféns da opinião pública

Eu sei que no Brasil o barco andou e atualmente já nem se fala mais em Lindemberg Alves, o rapaz que sequestrou e matou a ex-namorada, Eloá Pimentel. O assunto agora é a vida pregressa do pai de Eloá. Mesmo assim vou dar mais uma mastigada no episódio por aqui, principalmente porque quero compará-lo com outros dois casos.

O que me preocupa é o fato de que a polícia ficou refém (juro que não é um trocadilho) da opinião pública. Faz um monte de merda as escondidas e, na frente das câmeras, morre de medo de fazer o seu trabalho. Houve muitos erros por parte do GATE, mas para mim o principal deles foi não ter atirado em Lindemberg quando teve chance.

Eu já disse e reitero que não alinho com a opinião de que bandido bom é bandido morto. E o garoto em questão nem bandido era. Mas ficou malucão, pegou em uma arma e estava ameaçando uma inocente. Depois de cinco dias era bastante claro que o cara não estava afim de ceder facilmente. Entre um e outro vai poupar a vida de quem?

Este caso lembrou-me, como disse, duas ocorrências - como se diz no jargão policial. Uma delas é a do ônibus 174 em que a situação era teoricamente mais fácil (não era um crime passional, o sequestrador estava encurralado em um ônibus e tratava-se realmente de um bandido). Naquele dia a refém foi morta e o sequestrador também, mas não por um atirador de elite como deveria ser. Ele foi executado a caminho da delegacia dentro do camburão, longe das câmeras. Um desastre.

O outro caso aconteceu aqui em Lisboa. Em agosto deste ano dois brasileiros tomaram uma agência do Banco Espírito Santo e fizeram reféns. Depois de quase um dia inteiro de negociações atiradores de elite abateram os dois. Um deles morreu. Haviam muitos riscos em termos de opinião pública, já que eram dois imigrante e, soube-se depois, um deles era gente boníssima, trabalhador, honesto etc.

Gente boníssima, mas naquele dia fez uma bela merda e colocou em risco a vida de pessoas inocentes. A polícia abateu os rapazes na frente das câmeras. Fato para ser celebrado? Não!!! Mas foi a atitude mais certa. Os reféns saíram com vida. Esse deve ser o objetivo final da operação. No dia seguinte ninguém questionou a ação da polícia.

Uma situação com reféns deve ser das mais difíceis para policiais de qualquer parte do mundo. Mesmo fazendo a coisa certa, existe sempre uma probabilidade de tudo dar errado e a culpa recairá nas costas das autoridades. Imagine então uma polícia mal treinada, mal equipada e com uma opinião pública hipócrita de qualquer jeito nos seus calcanhares.

Só pode dar no que deu.

1 comentários:

Ana disse...

Pois é, Daniel....eu, hoje, li uma reportagem que fala algo mais ou menos nesse sentido. As pessoas, a mídia o mundo se choca com o fato, mas pouquíssimos percebem o verdadeiro monstro, as entrelinhas que levam o fato a ocorrer e, que o aumentam sua notoriedade... Se puder, leia!
beijo
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/10/24/ult5772u1248.jhtm